Um
aperto forte no peito.
Um
derradeiro passeio pela casa.
[Uma
camisa, roubada por impulso,
perfumava
o ombro]
Chego até a porta, giro a chave,
seguro a maçaneta,
mas não consigo...
Viro-me e encaro a sala, arfando.
Um carro passa e faz brilhar o
cinzeiro na janela:
“Um último cigarro talvez me
ajude”.
Walter,
Não
posso mais. Minha coragem chegou ao fim. Este é o limite. Não posso mais. Não
conseguimos e não vejo como vamos conseguir. Tínhamos um sonho, mas agora vou
atrás dos meus. Te segura, te sustenta e persiste se quiseres.
Clara
Quem
poderia dizer que um sonho não vale tanto?
Quem
atiraria pedras contra minha vontade de ser feliz?
A
liberdade, em sua inteireza,
inexiste.
[e
esta verdade agora me é óbvia].
Que
sentido faz,
então,
abrir
mão do pouco que nos resta?
O táxi chegou buzinando e
rompendo com violência
alguma coisa dentro de mim.
Pensei já ter chorado tudo, mas
não...
Minhas pernas cederam e não havia
nada em que se segurar.
Com o rosto contra o chão gelado
vi tudo por um novo ângulo
e a sala me contou em dois minutos
toda a sua história,
demorando-se dolorosamente sobre as últimas semanas.
A
brasa vermelha esmorece.
A
casa fica escura e tudo silencia:
É
hora de partir.
Tuan R. Fernandes - Março de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário