quarta-feira, 6 de março de 2013

Elegia aos Ímpios


I

Um dia,
a tristeza subiu aos céus,
abriu suas asas
e planou sobre todos,
como urubus
que farejam desastres.

Ainda está lá:
Eternamente atenta.

Quando,
do suor de alguém,
evola-se
o desespero,
o fracasso e
a vergonha,
ela enche os pulmões:
Desce implacável
e lhe arranca os olhos.



II

Eregiu-se,
então,
uma fonte
e
um templo
ao seu redor.

Lá,
anjos obesos e safados
regurgitam infinitamente
um unguento
denso,
escuro
e inodoro.

Lá,
os tementes
banham-se
e perdem-se
entre seus iguais.

Lá,
todos escondem-se.

Lá,
todos encontram a salvação.


III

Amanhã,
acordarei e
cuspirei neste lamaçal.
Praguejarei,
por horas a fio,
contra todos os que nele se enfiarem,
e, sob o sol do meio-dia,
sairei de casa
com meu próprio cheiro.

Amanhã,
Em meio aos uivos
de reprovação e pena,
poderei ouvir
o bater das asas
da maldita.
E quando ela descer,
num mergulho
sedento de sangue,
a agarrarei pelo pescoço,
abrirei seu peito
e, em êxtase,
devorarei seu coração.

Tuan R. Fernandes - Março de 2013

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