quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ainda

Uma nuvem
de três andares
passeia sobre a cidade:
neblina sobre a Messejana.

Meu peito nu
conversa com ela
e
se arrasta com ela.

Se pudesse,
iria,
e me desfazia
logo alí

Lenta e
dolorosamente.

A ponta
dos meus dedos
ainda tocam
este chão gelado.

Minha boca
de merda
ainda sonha:

E eu desperto
no meio da noite
com você
inteira
em minha garganta.

Tuan R. Fernandes
Março de 2014

Culpa

Nada sei
sobre o brilho
das coisas.
Nem sobre o betume
que a tudo envelhece.

Meu peito ainda queima:
A música acabou:
haviam violinos,
agogôs,
e uma voz,
sem palavras.

Aperto
com força
meu peito
para estancar
a dor,
mas é inútil.

[Eu só sei
que nas trevas,
nem a lua.]

Amanhã
não haverá
quem lembre
de cada sacrifício,
nem de cada recomeço.

E quando
se dissipar
a memória do fim,
não haverá mais nada.

Tuan R. Fernandes
Abril de 2014